Ela dizia-me “porque é que não pões as meninas no jardim-infantil da Universidade?” e continuou com uma série de descrições, argumentos e emoções. Achei aquilo estranho, ela falava do JISASUC com um brilho nos olhos e uma emoção nas palavras que me intrigava. Ok, vou lá ver, podes telefonar a marcar um dia por mim?
E assim fui, um dia à tarde, em Maio. Fui recebida, contaram-me tudo sobre o projecto desse ano, o Sr. António estava à porta sentado no sofá da sua sala e tinha trazido vários desafios às crianças. Levaram-me a ver todos os recantos e salas do JI. Por mim passavam crianças que iam à casa-de-banho ou à sala ou ao cabide. Mostraram-me o refeitório e o dormitório. Nas paredes, documentações dos trabalhos desse ano e fotografias. Descemos e foi quando saímos para o quintal que a minha decisão foi tomada. A partir desse momento julgo que não ouvi mais nada do que me diziam, estava apenas a apreciar aquele espaço enorme, cheio de árvores, com tantas crianças a brincarem felizes, a correrem, a mexerem na terra.
Para mim, o mais importante na escolha da “escola” para os meus filhos sempre foram as pessoas. Não ligo muito ao espaço, à idade do edifício, à organização, à estrutura. Ligo às pessoas e preciso de lhes olhar nos olhos para saber, para confiar, para acreditar.
E nessa tarde de Maio, os olhos falaram comigo e eu gostei muito do que ouvi.
Ontem foi a festa de final de ano do JISASUC. Mas para as minhas filhas, foi também a última festa no jardim-de-infância ao fim de três ricos anos. Nestes três anos, o crescimento das minhas miúdas é fascinante e não é apenas biológico, não é apenas fruto da evolução natural. É porque estiveram três anos ali, com aquelas pessoas, tantos dias, tantos momentos.
O lema do JISASUC é “escutar a criança, dar voz à criança”. Parece óbvio que assim seja desde a creche até à escola, mas todos conhecemos exemplos contrários. No entanto, ali a criança é mesmo o mote para desenvolver tudo o que se passa ao longo de um ano. São os interesses que manifestam, são as perguntas que fazem, são o que trazem de casa, são as partilhas do fim-de-semana, são as profissões dos pais, são os gostos das crianças. Ali nada está definido no início do ano, são os miúdos que guiam os educadores no desenvolvimento do projecto com a sua curiosidade natural. A promoção da autonomia é levada a sério desde o primeiro ano e a ajuda dos mais crescidos aos mais pequenos, é constante. Ali, o mais importante é brincar, brincar, brincar. E, acima de tudo, no JI acreditam nas crianças, todas elas, todas.
O JISASUC sabe aproveitar as profissões, hobbies e saberes dos pais para proporcionar momentos importantes às crianças, para desenvolver ideias, construir lugares, espaços, cenários, projectos, arte, ateliers e recordações.
E também é bom saber que aproveitam o que a cidade e a Universidade têm, mesmo ali ao lado, sem ser preciso nada de especial, para descobrir a História, visitar exposições, conhecer lugares, profissões, pessoas, ruas, jardins, para enriquecer o projecto e registar vivências. E terem sido escolhidos para integrar o projecto de educação ao ar livre na Casa da Mata, é uma mais-valia para todos os pais e crianças que depois dessa experiência ficaram muito mais ricos e felizes. Os educadores do JI estão sempre em constante desafio para serem todos os dias um pouco melhores.
A arte, os artistas plásticos e a criatividade estão tão presentes na vida destas crianças que até são elas a ensinarem aos pais características e factos das obras de arte, em casa. E a partir daqui, tanto se conhece do mundo.
Agora, três anos passados, percebo e partilho daquela emoção que a minha amiga transbordava quando falava do JI. Agora também eu tenho aquele brilho no olhar e estou carregada de emoção.
As minhas filhas serão tartarugas para sempre. Porque tiveram a sorte de ter uma Joana na sua vida.
E porque a gratidão é algo que nos deve guiar na vida e porque o dia de ontem foi especial, aqui fica o meu obrigado, um a um.
Obrigada aos Pais dos Tartarugas, pessoas de bom coração, sempre de sorriso aberto, que alinham em tudo, que são imensamente simpáticos, que me aturam a conversar à porta do JI, que ensaiaram com afinco para o flashmob surpresa ontem na festa, que se divertiram e que se tornaram tão nossos amigos.
Obrigada Isabel por nos ter recebido com um sorriso desde o primeiro dia, por atender a todas as minhas perguntas sem excepção, por se preocupar com o que a Julinha come, pelas conversas, pela simpatia e sobretudo, pelo orgulho de fazer parte do JI.
Obrigada Nuno pela paciência para esta mãe chata, pela capacidade de coordenação, pelas músicas e guitarradas, pelos abraços aos miúdos, pela compreensão, por acreditares nas pessoas, pela isenção e pelo rigor.
Obrigada Sónia pelo ano carinhoso e marcante na vida das miúdas, e pela capacidade de não desistir de realizar um sonho que vai dar frutos nas crianças, pelo colinho e pelos sorrisos.
Obrigada Joana Caracol por seres a outra Joana, por dares uma amigo para a vida, por teres a capacidade de cativar os filhos dos nossos amigos, por estares sempre presente quando precisavamos, pelos mimos e sorrisos rasgados, por teres orgulho no que fazes.
Obrigada Raquel pelas partilhas sobre educação, por espicaçares as minhas miúdas, pelas coisas herdadas da tua filha, pelas histórias e gargalhadas, por ajudares a fazer boas escolhas, por transbordares orgulho na família JI.
Obrigada Odete pela calma e serenidade, por te teres revelado aos poucos, pela simpatia e experiência, e por dares uma amiga para a vida, pelo orgulho na profissão que escolheste.
Obrigada Débora e Ana pela paciência para uma mãe armada em veterana do JI, pelas interrupções das reuniões para conversar, pelos sorrisos e alegria.
Obrigada Lídia pela paciência e colinho, por conseguir meter os miúdos em ordem, por ser tão agradável, pelas conversas e pela simpatia.
Obrigada Elisa por toda a calma com que sempre fala para os pais e crianças, pelo respeito e colinho para todos os miúdos.
Obrigada Nanda por toda a atenção, sorrisos e carinho que demonstrou por nós. E pelas conversas beirãs.
Obrigada Ana, Tina e Zita por conhecerem todos os miúdos pelo nome, pelos sorrisos mesmo não conhecendo muito bem os pais, por insistirem com os miúdos para beberem água ou comerem pão, pelo trabalho tão essencial e bem feito.
Obrigada Pedro por tantas e tão boas cantigas, por não lhes mostrares apenas o óbvio, por transmitires o gosto pela música, por insistires para não desistirem, por eles saberem cantar muito melhor que os adultos, por tocarem clavas e flauta aos cinco anos, por estares tão presente sem estares todos os dias na vida deles.
Obrigada Cláudia pela forma única como está com as crianças, pelas tatuagens com caneta bic, por todas as vezes em que teve paciência para pintar as unhas às miúdas, pelas gargalhadas, pela calma, pela forma simpática como fala com os pais, pelo carinho e bom humor.
Obrigada Margarida por nunca se esquecer de nada, pelo carinho com que fala para os miúdos, pela forma engraçada como está ao pé deles, pela calma e paciência, pelo orgulho que sente, por adorar as minhas meninas, pelas fotografias que me foi enviando, pela perspicácia em perceber logo o que se passa com os miúdos, por todos os curativos aos dói-dóis, pela simpatia e encanto que transmite todos os dias.
Por fim, e seguramente o mais importante, um profundo obrigado a ti Joana Tartaruga, as palavras custam-me muito a sair porque estão misturadas com lágrimas de felicidade por teres entrado nas nossas vidas. És uma pessoa única com uma capacidade imensa de amares cada um dos 25 tartarugas como se fosse um filho teu e essa é a maior dádiva que os miúdos e pais levam de ti. Na minha vida e das minhas filhas, há um tempo antes da Joana e um tempo depois da Joana, infinitamente mais rico, preenchido e caloroso. Tu és a cara do JI e da abordagem reggio-emilia, tudo em ti transpira o lema do JI, ouves as crianças e dás-lhes voz, estás atenta aos seus interesses, registas mentalmente os momentos e conversas deles, não os deixas desistir facilmente, dás espaço, dás colo, dás atenção. Provocas e esperas pela reacção, consegues surpreender-te todos os dias com os teus meninos, chamas os pais e consegues que eles participem sem reservas, documentas os dias nem que seja num papelito ou numa conversa, tens ideias, adoras livros, contas as histórias com alma e energia, queres saber o que fizeram no fim-de-semana, adoras que partilhem coisas de casa, que mostrem as descobertas, que façam perguntas, muitas, que tenham um brilho no olhar, que sejam pespinetas, que trabalhem em equipa, que se ajudem, que se conheçam uns aos outros, que voltem ao teu colo. Obrigada por me ajudares a ser uma mãe mais atenta e a ver fora da caixa, a conhecer melhor as minhas crias e a querer participar na vida do JI. Obrigada pela disponibilidade para me ouvires. Obrigada por ajudares as minhas filhas a crescer e a serem felizes.
Obrigada.
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